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Amizades, morte e gratidão

A importância das velhas amizades em momentos dolorosos

Eu me mudei de cidade algumas vezes na vida e, especialmente nos últimos anos, essa circunstância começou a fazer uma diferença bem marcante.

Eu me pego sentindo falta de poder mandar uma mensagem e em questão de meia hora estar na porta do cinema ou em uma mesa de bar com alguém com quem sei que terei longas horas de conversa e risadas. Sinto falta de ir em shows, comer, jogar, andar de bicicleta, acampar, fazer piqueniques ou até visitar para curtir um ócio.

A presença, o calor humano, o acolhimento e até as duras de uma amizade são fenômenos preciosos. Nas fases mais difíceis é quando relembro da importância que tantas pessoas tiveram pra mim, como verdadeiros anjos salvadores.

Alguns desses amigos são pessoas com quem não tenho contato há anos. E aí vem uma particularidade de como vejo essa relação, a amizade. Pra mim, não importa há quanto tempo não nos vemos ou não nos falamos. Se algum dia tivemos um vínculo, se compartilhamos tempo juntos e vivenciamos alguma história, pra mim, esse vínculo é eterno.

Sei que muita gente não vê da mesma forma e já aconteceu de eu esbarrar em alguém por aí e conversar, mas sentir uma certa distância, um estranhamento da parte da outra pessoa. No entanto, isso é algo de que eu não tenho medo. Não sei explicar bem, mas carrego comigo sempre um certo afeto, um respeito e um desejo pela felicidade da pessoa. De uma certa maneira isso me deixa sempre confiante e faz eu me sentir conectado.

Recentemente, tenho recebido a pesada notícia do falecimento dos pais de muitos amigos. Câncer, Covid, infartos, acidentes… muitas causas diferentes, mas com um efeito igualmente devastador nas vidas das pessoas que ficam.

Alguns desses amigos estão nessa categoria mais distante, mas mesmo assim, acho importante manifestar meu afeto, minhas condolências. E, muitas vezes, acabo recebendo mensagens que contam das inseguranças, sobre como eles tinham receio de mandar uma mensagem dando um olá ou como sentem saudade. Mas, principalmente, agradecendo imensamente pela lembrança e acolhimento em um momento tão difícil.

A dor de perder um ente querido é dilacerante, devastadora. Não perdi meus pais, mas perdi meu avô recentemente, que foi quem me acolheu e ofereceu o sustento depois que meu pai me abandonou. Apesar de emocionalmente distante, pra todos os fins e efeitos, meu avô foi meu pai.

E ainda lembro do dia como se fosse ontem… eu nunca me senti tão apavorado e desamparado como naquele dia, quando recebi a notícia.

Eu não compartilhei em nenhuma rede social sobre isso, mas algumas pessoas souberam e essas mensagens vindas dos amigos foram de especial importância, me trouxeram um amparo que muita gente subestima. Ajuda prática, financeira, material é importante, claro, mas uma simples demonstração de afeto também pode operar um milagre em meio à dor. Ninguém vai sair sorrindo e saltitando, mas a sensação de receber amor ajuda muito.

Esse amor não precisa chegar só em um momento tão difícil. No dia-a-dia dá pra mandar um meme, uma música, um vídeo… compartilhar o que gostamos ou que vivemos, aceitando que as pessoas ficam adultas e estão ocupadas pode ser ótimo.

Sei que nem todo mundo tem tempo pra enviar lembranças pra cada um com quem já esbarrou na vida, mas pedir por uma notícia, agradecer, relembrar o afeto pode ser o gancho pra uma conversa que vai regar a relação e manter ela viva por mais algum tempo, como um cacto no deserto.

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