Hoje vamos de curiosidades aleatórias com Luri.
Todo mundo conhece a máxima de que japoneses amam a cultura brasileira, em especial a nossa música. Não é raro ver restaurantes, elevadores, estações de trem e outros ambientes públicos tocando MPB, Bossa Nova, Chorinho, etc.
Eu sempre me perguntava o porque disso, não conseguia entender. Mas acho que agora cheguei em uma teoria.
Eu estava assistindo um vídeo de um guitarrista chamado Marty Friedman – que é famoso por já ter tocado no Megadeth. Nesse vídeo ele fala um pouco sobre sua paixão pela música japonesa e explica algumas diferenças entre a música americana e a música pop japonesa.
Caso você não consiga entender a parte teórica, tudo o que precisa saber é que harmonicamente, a música ocidental perdeu muito das suas raízes no jazz. Hoje, é comum termos músicas com poucos acordes, harmonias super simplificadas e melodias repetitivas.
No caso da música japonesa, não existe tanto esse processo de simplificação pra massificar a música. Na verdade, é bem o contrário, culturalmente, os japoneses tem um apreço por longas cadeias de acordes em tétrades (ou seja, acordes com 4 notas empilhadas, gerando dissonâncias), como no jazz. Eles crescem habituados a esse som mais complexo. E, muito importante… amam melodias adocicadas, felizes.
Pra concluir, ele usa como exemplo a canção Arigato (você sabe o que significa, me recuso a traduzir), uma canção japonesa quase folclórica que você provavelmente também conhece.
Ao ver os acordes que ele exibe quando fala dessa progressão, que ele define como “uma progressão de acordes bem japonesa”, não pude deixar de notar… isso soa muito como a forma como as progressões de acordes se dão na música brasileira também.
Essas progressões, de fato, compartilham muito com o jazz dos anos 1920 a 1960, repletos de acordes de sétima, sexta, nona, modulações, empréstimos modais, etc… vou poupar vocês dos jargões.
A música brasileira bebe muito dessa fonte, especialmente a Bossa Nova, que resumindo ao ponto de soar inarticulado, foi desembocar no que hoje entendemos por MPB.
Então, por que, afinal, os japoneses amam música brasileira? Basicamente, eles foram educados desde pequenos a gostarem do tipo de música que nós fazemos. Eles estão familiarizados com as mesmas raízes jazzísticas que nós. Quando eles ouvem uma Bossa Nova, é quase como se fosse música japonesa. Soa como o que eles naturalmente se sentem atraídos… é uma música leve, positiva, nostálgica e, melhor ainda, com aquele toque de samba que só a gente conhece e sabe fazer.
Pode adicionar essa aí pra sua lista de teorias de mesa de bar. 😉
Na vitrola do Luri
A minha indicação de som da semana é: uma playlist de música brasileira, a maioria dos anos 60 a 80, tocada por japoneses.
Destaco essa releitura de Garota de Ipanema, pra quem quer colocar um pouco de shoyu na bossa nova.
Vale o play ou ao menos a curiosidade. 😉
Gravei um cover do Péricles!
Decidi voltar a publicar vídeos cantando. 🙂
Como poucas coisas são mais brasileiras que Péricles e eu tava nessa vibe, decidi começar gravando Até que Durou. Espero que gostem!