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Pare de se culpar, use a preguiça a seu favor

Antes de mais nada, o que você sente pode não ser preguiça, mas o puro e simples cansaço

Há tomos e mais tomos repletos de teses e pseudo-soluções para o tema da preguiça.

É só olhar rapidamente a sua timeline no Medium ou no Facebook e você vai perceber como esse tema permeia o cotidiano. Estamos sofrendo por falta de energia, ânimo e motivação.

Vai, digite aí, rapidinho, a palavra motivação no Google e você vai ver.

Aqui alguns exemplos que selecionei:

5 Ways to Get Energized and Motivated When You Feel Lazy

5 Ways to Get Energized and Motivated When You Feel Lazy

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No Medium, o que aparece pra mim nesse instante:

5 Ways to Get Energized and Motivated When You Feel Lazy

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Antes de mais nada, acho que vale abrirmos um parêntese.

É muito aceitável, normal e até desejável estar desmotivado para trabalhar no seu projeto paralelo depois de ter passado oito horas trabalhando e mais duas horas no trânsito. É mais normal ainda ter dificuldade de sair da cama pela manhã depois de passar por isso seis vezes por semana, meses a fio.

Se você não consegue pegar os livros para estudar à noite, pode não ser uma questão de você ser uma geleia preguiçosa e desprezível.

Se você não consegue acordar cedo pra ir à academia, talvez não seja você o problema.

Pode ser que você esteja simplesmente sobrecarregado, cansado e precise de um tempo. Isso é algo que faço questão de deixar claro por que quando leio os artigos que pipocam por aí, sobre o tema, a impressão que me dá é de que sou uma ameba inútil e todo o mundo está produzindo a todo vapor o tempo inteiro.

Olha esse aqui embaixo, por exemplo. Quando vejo esse discurso, realmente parece que eu não sirvo pra nada e estou vivendo completamente abaixo do meu “verdadeiro potencial”.

5 Ways to Get Energized and Motivated When You Feel Lazy

E, sim, pode até ser que algumas pessoas consigam. Mas não é o meu caso, pode não ser o seu também.

Por isso, digo, muito provavelmente o problema não está em você, mas numa cultura que nos pede para produzir de uma forma não humana, sacrificando justamente aquilo que nos torna humanos: nosso bem-estar, o lazer, o livre pensamento, as boas relações.


Ainda assim, uma outra camada de raciocínio pode ser aberta.

Temos que nos relacionar com esse mundo. Precisamos ganhar dinheiro, pagar as contas e, enfim, sobreviver.

Assim sendo, seria muito bom conseguir extrair um pouco de energia em meio à adversidade para fazer o que realmente queremos com as nossas vidas, seja dar prosseguimento a um projeto, frequentar a academia ou fazer bolo pra receber visitas.

Eu já comentei uma vez, em outro texto, sobre o quanto considero a disciplina essencial em qualquer processo. Mas também compreendo como não basta querer ser disciplinado, algo nos puxa, nos afasta daquilo que é benéfico pra nós. Você pode chamar como quiser: procrastinação, falta de ânimo, de motivação, aversão… sei que é duro, mas no final, a coisa sempre vai ser uma forma sofisticada de preguiça.

E nem por isso precisamos nos culpar e nos considerarmos seres miseráveis.

O que venho experimentando é abraçar a minha preguiça, levar ela em consideração no meu planejamento e, assim, tornar ela parte do meu caminho.

Então, resolvi falar sobre algumas medidas práticas que venho tomando a respeito.

Torne fácil aquilo que é benéfico

Eu acho totalmente maluco, mas a verdade é que quase tudo o que é fácil, nos faz mal. Vá ao supermercado, pegue qualquer alimento preparado e vai ver como ele está repleto de substâncias que não exatamente contribuem para uma boa alimentação.

Os aplicativos que mais usamos costumam ser os que mais roubam nossa atenção. São feitos não só pra serem simples e fáceis de usar, mas também para viciar. Sem contar que gostam de chamar você o tempo inteiro por meio de notificações.

Já os aplicativos mais úteis não costumam fazer o mesmo. Comida boa também não vem pronta em pacotinhos só pra você adicionar água e comer.

Então, algum esforço precisa ser feito para que a concorrência não se torne desleal e as distrações ganhem sempre.

Na prática, é preciso um certo esforço pra tornar as coisas pelo menos um pouco mais fáceis.

O que eu faço:

  1. Quero tocar diariamente e aproveitar repentes criativos para escrever e compor música e textos. Pra isso, organizo meu quarto para que meus instrumentos estejam sempre à mostra e, quando me der vontade, eu possa simplesmente sentar e brincar com as minhas coisas. Caderninhos acessíveis, instrumentos fora das capas, amplificador montado. Tudo só me esperando.
  2. Alimentação mais saudável: nem sempre consigo, mas reservo um dia pra preparar comida ou pelo menos uma parte dela pra todo o resto da semana. Assim, eu posso só pegar os potinhos na geladeira e levar minha marmita pro trabalho ou esquentar no microondas pra jantar. Quando não faço isso, gasto uma grana com alimentação e como muito mal, já que a comida que vendem nos restaurantes costuma estar mais pra uma lasanha do que pra uma salada.
  3. Atividade física: engatei bem o hábito da bicicleta. Mas algumas vezes eu evitei a bike por preguiça de ter que descer com ela no ombro usando a escada (moro em uma casa). Hoje deixo ela na garagem, no mesmo nível do térreo, quando preciso utilizar, só tiro e vou. Além disso, deixo os acessórios também à mostra. Assim, quando vou sair, lembro da bicicleta, pego as coisas e saio.
  4. Produtividade: A capa do meu celular também conta mais com os aplicativos que me são úteis e ajudam no que pretendo fazer do que os que mais uso. Facebook, Instagram, Snapchat, nada disso fica ali. Ao invés disso, deixo o Todoist, o 7 weeks, Evernote, Agenda, Guia Bolso, Calculadora, Alarme/Relógio e o ClearFocus.

Dificulte o que é prejudicial

Aqui, é importante deixar explícito também o outro lado da moeda.

É preciso tornar um pouco mais difíceis as coisas prejudiciais.

É por esse motivo que, por exemplo, é preferível não ter instalados ou não deixar os atalhos de Facebook, Instagram, Whatsapp ou Snapchat logo na capa do celular.

Do mesmo modo, comida instantânea, refrigerantes, doces, não são muito interessantes de se ter na geladeira caso você queira se alimentar melhor.

O motivo é simples: nosso condicionamento é o de buscar prazer e damos preferência a isso. Quanto mais rápido e fácil a obtenção desse prazer, melhor. Pouco importa se no longo prazo isso vai nos ferrar ou se podíamos ter obtido um resultado melhor. Não é à toa que procrastinação é algo que nos arrasta tão facilmente.

Assim, é bom criar as condições favoráveis pra fazer o que é mais benéfico e, ao mesmo tempo, dificultar o que não é.

Por favor, tenha tempo livre, pare de trabalhar, relaxe

Eu já fui do tipo que trabalha o tempo todo. Minha desculpa para não participar de shows, eventos, encontros, etc, era o trabalho. Eu sempre tinha algo ó-tão-importante que me impedia de ser alguém mais sociável e feliz.

Além disso, eu forçava a situação procrastinando demais ou não impondo limites. Usava até mesmo o fato de ter uma rotina flexível de forma desfavorável. Meu trabalho era flexível sempre pra mais, nunca pra menos.

Eu volta e meia falho com isso e acabo passando dos horários, trabalhando demais, mas nem de longe como antes. E isso melhorou muito minha vida.

Tenho novamente meus finais de semana, nos quais não abro emails e não me preocupo com trabalho. Uso esse tempo pra relaxar, comer, dormir, ver filmes, pedalar, encontrar os amigos ou seja lá o que me der vontade. Também evito trabalhar em feriados.

E digo: é essencial que seja assim.

Sem isso, não dá nem pra trabalhar forçado, muito menos pra estar cheio de energia.

Sem esse tempo para viver, a gente vira um saco de batatas que faz coisas, rastejando pra lá e pra cá.

Portanto, trabalhe, produza, tenha projetos paralelos, seja criativo, pense mil coisas mirabolantes, mas não se esqueça que a vida está aí, acaba rápido e vai muito além de matar a maior quantidade de tarefas em um dia.

Relaxe, respire e lembre de apreciar a paisagem de vez em quando.


Nota: Se gostou do método Pomodoro, você pode se aprofundar com esse livro.

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