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Não seja mais uma cópia dos seus ídolos


Faça o dever de casa e pesquise as fontes de quem te influencia

Pesquisa é uma das jóias subestimadas da criatividade.

Muita gente fala sobre inspiração e existe todo um discurso metafísico a respeito de como a gente processa os estímulos e experiências da vida até chegar a criar algo.

Eu coloco muita fé que esses aspectos “mágicos” tem, sim, alguma relevância, mas tenho ao mesmo tempo tenho uma certeza: a gente não chega muito longe se baseando nisso.

É preciso estudo, paciência, disciplina e um bocado de sorte pra criar algo impactante ou, no mínimo, de qualidade.

Nesse processo de construção da sua própria identidade como artista, os ídolos exercem um papel fundamental.

Algumas fontes costumam se repetir e são senso comum. Se você gosta de rock vai ouvir Led Zeppelin e Jimi Hendrix ou Pink Floyd. Se você quer escrever crônicas e contos, vai ler bastante Bukowski. Como designer, é bem provável que acabe se debruçando sobre Kandinsky e outros gênios da Bauhaus.

Em alguma medida, acabamos nos deixando influenciar aos montes por essas e outras fontes. Às vezes, até passamos do ponto e o nos tornamos imitadores. Nada de errado nisso, é uma parte de criar a si mesmo. Mas é essencial transcender essa fase, ir além.

Eu tive meu momento de tentar entender a mente dos músicos que admirava. Quando ainda ouvia Led Zeppelin, procurei Muddy Waters, Little Richard, Jerry Lee Lewis, Chuck Berry, Sister Rosetta Tharpe, depois fui esbarrando em Buddy Guy, Sonny Boy Williamson, B. B. King, até chegar em Son House, Lightnin’ Hopkins, Leadbelly e, claro, Robert Johnson. Descobri todo um universo musical baseado na música negra do final do século XIX e começo do século XX, com as composições para pianola em ragtime, e várias canções populares que mais tarde virariam base para o jazz e o blues de hoje.

Na volta, acabei aprendendo muito sobre a música brasileira, aplicando esse mesmo princípio, estudando as canções de trabalho e cantigas de roda que eram entoadas pelos escravos, desembocando no samba, nas variações paulistas e cariocas, até voltar ao rock e MPB dos Mutantes, Secos & Molhados, Caetano, Gil, Tom Zé, Raul Seixas, sem esquecer da Jovem Guarda, do soul e do funk brasileiros, até chegar nos 80, que moldaram a música pop brasileira como a conhecemos.

Demorou, não foi da noite pro dia, mas foi algo que verdadeiramente me moldou e me ensinou a entender e a ouvir música.

Em algum momento entre a minha adolescência e eu decidir que queria fazer música, acabei me deparando com o livro “Crônicas Volume 1”, do Bob Dylan.

Lá, ele descreve esse mesmíssimo processo, quando foi a Nova York para conhecer e aprender com Woody Guthrie e acabou tomando lições não só com ele, mas com muitos outros artistas que admirava, como Dave Van Ronk. O livro está repleto de descrições do Dylan sobre qualidades que ele via nesses artistas e gostaria que fizessem parte de si mesmo. É um prato cheio para quem deseja ver com esses olhos.

Eu mesmo me debrucei nas referências que ele deposita ali, numa tentativa de tomar pra mim essas mesmas influências.

Claro que não sou nenhum Bob Dylan, mas certamente foi útil conhecer tudo isso.

O mesmo dá pra se fazer com a escrita e, sem dúvida, dá pra fazer com música, design e outras formas de arte também. É um processo de enriquecimento próprio que pode e deve ser levado a sério e feito de forma consciente (e paciente, claro).

Então, da próxima vez que ouvir ou ler alguém que tem um trabalho incrível, tão bom que você gostaria de fazer igual, não pense que há mágica e um talento inigualável. Aquela pessoa tem referências, influências, e tira as ideias de algum lugar.

Você nunca vai ser igual a ela, no sentido de fazer as mesmas coisas e tomar as mesmas decisões, mas certamente você pode aprender a usar esses ingredientes à sua própria maneira.

Aprenda, sim, com quem te influencia, mas não seja uma cópia barata. Analise os caminhos percorridos, entenda os princípios e mecanismos, veja as referências que seu ídolo usa e então faça tudo do seu jeito.

Ninguém quer um novo Bob Dylan ou Bukowski. Já temos os originais.


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