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Esqueça a empolgação, faça um mínimo a cada dia


Você consegue muito mais trabalhando pouco de forma disciplinada do que fazendo muito, seguindo o calor do momento.

Antes, um pouco de contexto.

Olá, meu nome é Luciano e eu me auto-intitulo músico e escritor. Para a maioria das pessoas, eu sou mais escritor que músico, apesar de falar bastante no assunto. O motivo é claro e bem razoável: nunca lancei nada pra valer com a minha assinatura.

Até já soltei algumas músicas avulsas, aqui e ali, alguns vídeos e, se você garimpar bem, talvez até encontre material antigo da minha banda. Nada de mais, é verdade, a maioria material inacabado ou mal feito mesmo.

E é esse o motivo pelo qual costumo dizer que nunca produzi nada, musicalmente falando.

Escrever eu escrevo periodicamente. Toda quarta tem texto aqui no PdH ou no meu Medium. Até tenho a minha coluna sobre música, a Eu Ouvi Pra Você.

Jabá feito, o que pretendo contar é o processo pelo qual passei no último ano, até chegar ao ponto no qual estou agora: finalmente concluindo um EP, com três músicas acabadinhas e criando coragem pra lançar da forma como tem de ser feito.

Então, vamos lá.

Eu queria tanto que ferrava tudo

Música é uma das coisas que mais gosto de fazer na vida. Gosto de tocar com os amigos, de ter uma troca gostosa com as pessoas que ouvem, de sentar a bunda e me isolar do mundo por horas a fio, até ter algo nas mãos. Curto cada parte do processo de formiga que é escrever uma música.

Mas, ao mesmo tempo, eu me considero alguém que entende relativamente bem do assunto. Ou seja, pra mim, não basta tocar, a coisa precisa ser séria. Tem de ser muito bom, acima da média e, se possível, tão bem executado que não possa deixar dúvidas sobre a qualidade final da coisa.

Não preciso ir longe pra mostrar que isso é insustentável e uma armadilha em si. Não dá pra atingir esse nível, principalmente sendo quem sou: um músico de quarto, que faz o que faz nas horas livres.

Eu não sou profissional, não posso dedicar minha vida inteira a isso, nunca tive estudo formal e, basicamente, aprendi o que sei como autodidata. Perfeição é um ideal totalmente fora do meu alcance. E aposto que, de um modo geral, isso pode se aplicar a outras atividades criativas também.

Querer tanto ser bom, só me ferrou esse tempo todo. Eu fui criando mecanismos cada vez mais sutis de me autossabotar pra nunca realmente me colocar à prova. E a maior evidência que tenho disso é que já tem mais de dez anos que faço música e só agora estou dando esse passo: efetivamente colocar algo no mundo.

É clichê, mas aprendi a duras penas: você melhora muito mais errando e mandando mal em público do que sendo o bonzão no segredo do seu quarto. Vale pra música, vale pra vida.

Não perca dez anos até perceber isso.

O que sempre me faltou em tudo na vida: disciplina e paciência

Tocando com os amigos na sede do PdH

Eu me considero alguém que tem muita energia no curto prazo. Costumo me empolgar e fazer certas coisas com bastante ânimo, mas por outro lado, perco a empolgação fácil e desisto.

Então, quando pensava em fazer um disco, por exemplo, eu tirava uma semana de férias e me colocava a compor 24 hrs por dia. No final, até poderia ter alguma coisa escrita, mas garanto que a qualidade era bem duvidosa e o cansaço era enorme.

Extrapole isso pra tudo na minha vida e você pode imaginar o problema. Sim, eu era/sou fogo de palha.

Logo, eu tenho uma lista enorme de projetos, cursos e hábitos começados mas nunca concluídos, além de uma vergonha imensa da quantidade de balela que já prometi por aí e nunca cumpri.

Foi preciso um certo processo (que ainda está em andamento), pra eu começar a não depender desse estirão de energia pra fazer o que planejo. E, se fosse pra elencar uma ideia que estava me consumindo e me desviando do meu foco, essa ideia seria a de que você tem que estar absolutamente empolgado e curtindo qualquer processo no qual você esteja inserido.

Agora, que a maioria das tarefas do projeto do meu EP estão atrás de mim, é fácil colocar isso numa narrativa bonita (como esse texto) e fazer parecer muito glorioso. O fato é que a maior parte do tempo o processo foi tedioso e frustrante, em especial ao ter que lidar com as milhões de limitações de ser um músico solitário sem um monte das condições que poderiam ser chamadas de “mundo ideal” da produção musical.

Diligência é essencial. Nada vai ser perfeito e você vai ter que fazer o que der, do jeito que der. E tudo bem, é melhor seguir em frente.

Faça pouco

Todo esse contexto foi pra poder chegar aqui.

A decisão que mais me fez andar com o projeto foi a de que eu faria uma só coisa por dia, todos os dias, de segunda a sexta.

Pras tarefas mais práticas, isso me fez sair do papel. Fiz principalmente meu site dessa forma. Num dia eu comprei o domínio, no outro, fiz o plano de hospedagem, no outro decidi qual o template, depois escolhi uma fonte… e assim por diante. Claro, não vou conseguir falar de todos os fatores subjetivos disso nesse texto, mas o resultado foi bem empoderador. Em duas semanas, o bicho estava lá.

Outra abordagem que segui, quando cansei dessa e o trabalho se tornou mais subjetivo e difícil, foi de trabalhar uma, no máximo duas horas por dia. Acabou o tempo, parou, hora de descansar. Amanhã é outro dia.

Assim, eu avancei principalmente na parte de produção, quando era o momento de lapidar as músicas, definir arranjos, ouvir opiniões, etc.

Essas duas abordagens também me foram muito úteis em outros momentos e para outras atividades. Comecei a frequentar a academia dessa forma, focando em 15 minutos de esteira por dia. Fiz um exercício de 10 minutos de escrita por 30 dias. Quando pego um livro pra ler (ou algo que preciso aprender), paro 10 minutos antes de dormir por um determinado número de dias.

Acredito que o maior poder dessa forma de trabalhar é que assim você nunca está satisfeito. Você sempre pensa no que poderia ter feito se tivesse mais alguns minutos. O importante é parar e preservar essa dissonância de não ter resolvido a questão, ela provavelmente vai te fazer continuar amanhã.

Você consegue muito mais trabalhando pouco de forma disciplinada do que fazendo muito, seguindo o calor do momento.


Nota: como falei, o meu EP ainda não está concluído, mas já está quase lá. Ainda falta eu me resolver com alguns detalhes e finalizar a parte mais burocrática de registro e prensagem de algumas cópias, coisa que nunca tinha feito antes. Por isso, ainda não tenho o link pra audição, mas gostaria de deixar aqui o convite pra, caso tenha interesse, você me seguir pelo Soundcloud, pelo Facebook ou pelo Instagram. Vou divulgar por lá quando já tiver com o dito cujo pronto.

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